Saiba como, além dos aspectos técnicos, a cultura organizacional pode ser determinante para o sucesso de um sistema especialista.
Sistemas Especialistas são muito aplicados em várias operações do beneficiamento mineral para otimizar indicadores-chave, como produtividade, qualidade e segurança. Para isso, eles avaliam, em tempo real, os dados da planta e levam em conta as melhores práticas operacionais para tomar decisões, em processos como britagem, moagem e flotação.
Diferentemente de outros artigos de otimização que escrevi, minha intenção aqui não é destacar os aspectos técnicos de um projeto convencional de Controle Avançado. Quero, porém, levantar um fator que considero essencial para o sucesso de sistemas como esse: as pessoas e a cultura da organização. Para ilustrar meu ponto de vista, trago como exemplo a revitalização de um dos Sistemas Especialistas na Nexa Resources (unidade de Vazante), projeto do qual participei.
É impressionante como analogias podem surgir de fontes tão improváveis como referências de infância: quando se fala na entrega de um projeto como esse, o que me vem à cabeça é a animação “Vida de Inseto”, lançada pela Disney em 1998. No filme, um grupo de formigas cede parte de sua comida aos gafanhotos para não serem atacadas por eles, o que as leva a repetir insistentemente a frase: “eles vêm, comem e vão embora”. Os gafanhotos estão apenas interessados na comida das formigas e elas, em se verem livres dos gafanhotos – não há qualquer relação de cumplicidade entre as “partes”, ambas querem apenas a entrega do que foi “acordado”.
Durante a instalação de um Sistema Especialista, muitos clientes (engenheiros e operadores de mineradoras) ora assumem o papel de “formigas” em relação às empresas integradoras (“os integradores vêm, entregam o projeto e vão embora”), ora o papel de “gafanhotos” (“onde está meu Sistema Especialista pronto com os milhões de reais em resultados financeiros??”).
Independentemente de qual dos personagens melhor se aplica em cada caso, fato é que a analogia expõe como é fraca a interação entre clientes e integradores ao longo da entrega do projeto. Muitas vezes, essa relação só é mais próxima na fase de entendimento do problema, quando o integrador deve entrevistar clientes “especialistas” na unidade que será otimizada. Nesse momento, engenheiros e operadores de referência informam quais as ações de controle devem ser tomadas no processo diante de cenários específicos. Após essa fase, cabe ao integrador implementar e comissionar o projeto sem que haja um diálogo efetivo com cliente até a entrega final do sistema.
Na unidade da Nexa em Vazante, foi proposta uma mudança nessa relação: um dos líderes da operação foi convidado a participar diretamente da entrega do Sistema Especialista, propondo mudanças na estratégia de controle e coletando opiniões dos demais operadores durante o comissionamento do sistema. Dessa forma, além do líder convidado e da empresa integradora, toda a equipe de operadores se viu como corresponsável pelo sucesso da entrega.
Essa disposição em experimentar uma relação mais próxima tem ligação direta com um aspecto da cultura organizacional da Nexa: a intenção de inovar, expressa no que eles chamam de “Jeito Nexa”. Em termos gerais, o “Jeito Nexa” está baseado em três pilares: inteligência, coragem e entusiasmo. Podem parecer apenas três palavras bonitas, mas são levadas muito a sério no cotidiano da empresa. Não era raro encontrar funcionários tomando frente em mudanças na planta e dizendo: “isso é Jeito Nexa!” Para quem, como eu, enxerga a empresa “de fora”, o “Jeito Nexa” pode ser traduzido como: “nós podemos fazer diferente e nós enxergamos valor nisso”.
Essa disposição em experimentar uma relação mais próxima tem ligação direta com um aspecto da cultura organizacional da Nexa: a intenção de inovar, expressa no que eles chamam de “Jeito Nexa”
Qualquer implementação de um Sistema Especialista envolve mudanças na forma como operadores e engenheiros atuam na planta. Logo, os resultados advindos dessa tecnologia são perceptíveis e duradouros não só por causa da automatização e padronização do controle, mas pelo fato de os clientes (especialmente os operadores) enxergarem valor nas mudanças propostas pelo Controle Avançado. E era visível como o chamado “Jeito Nexa” estava em sintonia com essas mudanças.
Não adianta clientes e integradores se enxergarem como “gafanhotos” e “formigas”: a interação entre essas partes requer confiança mútua. Ambos devem se ver como corresponsáveis pela entrega, tomando para si as mudanças e os resultados que o Sistema Especialista proporciona.